É Urgente Recomeçar A Viver
Suprimir a dor é retardar a cura, porque a dor significa alívio no sofrimento do organismo. Consumir medicamentos para suprimir a dor é forçar o corpo, limitá-lo, impedir as suas manifestações.
Tal como nós, os humanos, que por natureza detestamos todas as limitações, sejam no trabalho, nas relações amorosas ou familiares, o corpo também não as aprecia. Gosta de trabalhar e de funcionar de modo a proporcionar-nos liberdade para viver com as nossas fúteis preocupações mundanas.
Hoje em dia tudo é XPTO. É o emprego XPTO, o carro XPTO, o telemóvel XPTO, o restaurante XPTO. São os detergentes que matam os micróbios XPTO, a virose que surgiu e que também é XPTO, os produtos de higiene XPTO, as vacinas para as gripes XPTO, são as análises e os tratamentos XPTO, os vegetais do supermercado com os preços mais XPTO, o médico XPTO, as férias mais XPTO, etc. Vivemos no mundo em que tudo é XPTO, excepto a nossa saúde, essa é frágil, muito frágil.
Somos aconselhados a lavar as mãos a toda a hora, tomar 50 banhos por dia, mudar de roupa, expulsar todos os micróbios e possíveis invasores das nossas casas (como se isso fosse uma possibilidade real), lavar constantemente o cabelo, o carro, as roupas, os pés, a cara, os pratos, as paredes, e tudo a uma velocidade frenética, desesperante, obsessiva, compulsiva e descontrolada. Basta ir a uma grande superfície ou a uma praia para observar aquilo em que nos tornámos: bichos que lutam pelo melhor lugar no parque de estacionamento, pelo melhor carrinho de compras, pelo melhor local na praia, pela melhor mesa do restaurante, pelo status. Nem reparamos nas coisas boas ao nosso serviço: um organismo que é mal tratado, violentado, destruído e entupido, tudo durante o percurso da nossa vida. O nosso organismo nunca pára para pensar em vingança, está sempre pronto para se reequilibrar, para ajudar quem o destrói, incansavelmente e até ao limite das suas capacidades.
Já pensou se tivéssemos de estar com atenção para respirar, ou para fazer a digestão? Sempre que emite um alarme para o exterior, o responsável por esses processos não é respeitado porque num curto espaço de tempo o Sr. da Bata Branca o silencia. Neste caso o Sr. da Bata Branca não é mais do que o líder de um regime totalitarista, ordenando aos seus soldados (os medicamentos) que silenciem a manifestação inoportuna, o grito de revolta.
Será tudo como eles contam? Duvido.
Enquanto andamos entretidos com o futebol, Sócrates, Free-Port, submarinos, PT, EDP, caso TVI, festivais e outros que tais, não temos tempo nem cabeça para mais nada.
É necessária a vontade de recomeçar.
É urgente o recomeço.
Texto ‘The Rice Experience’
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